“La magie du cinéma”: o slogan do museu da cinemateca francesa não é anódino.
O museu conta de Georges Méliès (1861-1938), o primeiro cineasta do mundo.
Filho de sapateiro, Méliès era, de início, ilusionista de profissão (sim, sim, seu diploma está exposto).
Com o dinheiro de uma parte da indústria de sapatos de seu pai, ele compra, em 1888, o teatro Théâtre Robert-Houdin (sim, sim, o famoso ilusionista) para fazer suas apresentações de magia.
À luz baixa das diversas projeções de cenas fazendo homenagem às origens do cinema, vemos, na primeira sala do museu, diversos antigos brinquedos de ilusão de ótica:
Caleidoscópios, zootropos, lanternas mágicas… diversos dispositivos que jogam com imagens animadas.
Esses jogos de magia foram, cada um à sua maneira, percussores do cinematógrafo, dispositivo que projeta com rapidez, no girar de uma manivela, várias fotos em sequência, dando ilusão de movimento.
Méliès ficou completamente hipnotizado por essa máquina quando convidado para uma apresentação sobre ela, feita pelos irmãos Lumière. Tanto que quis comprá-la para fazer seus truques.
Como os Lumières negaram a vendê-la, alegando que o dispositivo deveria ter apenas fins científicos, Méliès consegue comprar um cinematógrafo de outro inventor.
Assim, ele começa sua carreira de cineasta.
Ou melhor, ele dá continuidade à sua carreira de ilusionista.
Vários curtas em que 1/ atores são cortadas em pedaços para logo aparecerem inteiras; 2/ atores aparecem/desaparecem de cena; 3/ atores (ou partes de atores) se transformam em outros atores, entre outros, são exibidos.
Nasciam assim várias técnicas de efeitos especiais que influenciam cineastas até hoje.
Claro, nem tudo são flores…
Méliès, após dar tudo para criar suas invenções mirabolantes e maravilhosas, cai em bancarrota. Vai então vender brinquedos com sua esposa, uma das primeiras atrizes do cinema, Jeanne d’Alcy.
Em sua última década de vida, seu trabalho foi redescoberto por outros magos: cineastas do movimento francês surrealista fazem com que Méliès ganhe a Legião de Honra em 1931 por toda a sua carreira.
Na movimentação do dia a dia é fácil esquecer do elo entre magia e cinema.
Aliás, esquecemos a importância da magia em geral.
Porém, precisamos dela para captar a atenção, para sentir um encantamento pela vida e não apenas existir, para oferecer novas perspectivas sobre as coisas.
De quantas maneiras pode o ser humano transformar suas paixões, sua imaginação em fontes de encantamento e de inspiração para a vida cotidiana? Em magia…